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Diagrafia #1 – 25 de Abril de 2019

Diagrafias

A ideia nas Diagrafias é fazer etnografia de um dia específico, sobre uma comemoração pública ou uma iniciativa privada, a situar no tempo e no espaço. O exercício baseia-se na observação etnográfica num só dia, sem possibilidade de continuar a exploração do mesmo tema noutra ocasião. O resultado formal é um texto no qual se transcreve tudo o que se anotou no caderno de campo, junto com gravações de som ambiente.

A transcrição das notas etnográficas quer-se o mais próximo possível do original, ou seja, com poucas correções formais e factuais. Um dos intuitos é apenas de revelar um olhar etnográfico sobre as ações sociais durante um dia, sem que haja comentários ou aprofundamentos analítico-teóricos. É a revelação da forma mais crua de observações etnográficas, deixando ao leitor a liberdade de interpretar, de querer analisar e questionar.

A nível da forma, as Diagrafias estão próximas do que é feito em etnografia com “descrição densa” (Geertz, 1973), mas também dos documentários de Wiseman, Rouch ou Depardon, e da mais recente escrita da antropóloga Françoise Héritier (2012, 2017). O resultado não tem qualquer pretensão literária, embora nele se revele uma estética muito própria à escrita de notas curtas sobre interações sociais e sobre os contextos nas quais se realizam.

Para esta primeira experimentação de Diagrafia escolhemos as comemorações do 25 de Abril. Neste ano de 2019 celebram-se os 45 anos da Revolução dos Cravos. De forma a não me dispersar demasiado numa Lisboa que multiplica os seus palcos comemorativos, foram observadas duas situações especificas: 1) O Largo do Carmo, tendo em conta as “horas decisivas do 25 de Abril”, nomeadamente a chegada de Salgueiro Maia; 2) A Praça do Marquês de Pombal e a Avenida da Liberdade como pontos de partida e de passagem do desfile popular. Propomos que oiça o som ambiente durante a leitura.


Diagrafia #1

Comemorações do 25 de Abril 2019, Lisboa, Portugal

Na manhã de 25 de Abril, desço a Avenida Almirante Reis a caminho do Largo do Carmo.

Na Praça do Martim Moniz há uma longa fila de turistas para o elétrico n.º 28. O 28 parece ganhar ao 25.

Ao passar por uma travessa que vai dar à Praça da Figueira, cruzo-me com uma pequena fanfarra acompanhada de colegas que distribuem cravos às senhoras.

Chegando à Praça da Figueira oiço o nome do Salgueiro Maia. É um guia turístico que projeta a voz para o seu grupo.

Nesta zona de Lisboa e a estas horas num feriado parece-me que só há turistas presentes.

Paro num café para tomar algo antes de ir até ao Largo do Carmo.

No café, enquanto estou no balcão, oiço um empregado a falar com um cliente a propósito das imagens da televisão em direto que mostram as comemorações do 25 de abril no parlamento português: “– Estão lá todos porque o almoço deve ser à borla”; “– Mas é feriado e estão a trabalhar, é um exemplo”; “– Deve ser um cheiro a naftalina ali dentro”.


10h45 chego ao Largo do Carmo para poder observar o que vai acontecer 45 anos depois. Tenho em mente a seguinte hora decisiva do 25 de Abril: 11h30 – chegada do Capitão Salgueiro Maia com uma coluna da Escola Pratica de Cavalaria.

Largo do Carmo 25 Abril 2019

“– Olhóooo cravo!”, uma senhora vende cravos junto a um dos bancos de mármore onde pousou os ramos.

Ao seu lado está a homenagem feita a Salgueiro Maia. É um círculo em mármore, no chão, ao mesmo nível que a calçada. Em toda a volta desta placa circular foram pousados cravos, provavelmente pela vendedora.

Enquanto a senhora grita o seu slogan de venda, ouvem-se as rodas das malas na calçada. Há sobretudo turistas, em grupo e com guia. Outros estão em modo free-style familiar.

O quartel da GNR tem o seu museu aberto. À porta está todo um aparato com a tradicional guarda oficial nas suas casinhas às riscas verdes e brancas. Hoje só está um deles, o da direita. Mas ao lado estacionaram uma potente mota da GNR com um dos agentes fardados a fazer as ostes. Ele sorri muito, conversa em várias línguas e convida as crianças a sentarem-se na sua mota. Os pais tiram fotos, o agente mete a sua boina na cabeça das crianças.

Junta-se outro GNR com a farda e a bicicleta dos anos 1950’. Coloca-se ao lado do colega da moto e também convida os turistas a tirarem fotografias.

Junto à porta principal, entre as duas casinhas da guarda oficial, chega uma grande mascote: é um dinossauro verde com as iniciais GNR ao peito. É muito grande, animado por alguém que vestiu a fantasia. Atrai as pessoas, faz aquele olá com as mãos, típico destas grandes mascotes.

Uma senhora idosa senta-se no banco de mármore da vendedora para lhe comprar dois cravos. Está vestida de forma solene, tem uma malinha e uma bengala. Troca palavras respeitosas com a vendedora e compra dois cravos. Parte-lhes o caule para que caibam na sua mala de mão.

Surge o filho da vendedora de flores. Parece ter por volta dos 14 anos. Traz um molhe de cravos. Está com cara de chateado ou de cansado. Tem o casaco roto e os ténis velhos.

Os dois tipos de árvores do Carmo estão de primavera. Há muitas folhas verdes com vida graças a uma ligeira brisa. Os jacarandás estão mais tímidos, têm mais tronco do que folhas verdes e flores violetas.

Num dos bancos de mármore senta-se um homem de fato branco, cabelo e bigodes brancos, luva branca, calça preta e lacinho preto. Na mão tem um estandarte improvisado que segura uma grande bandeira de Portugal. O estandarte é uma junção entre dois cabos de cortina do duche e uma vara de cana de pesca no meio deles. Há anilhas apertadas para garantir que tudo se mantem no sítio. Na base da bandeira e no cimo dela estão ramos de cravos de plástico. Junto ao topo há uma buzina de mão, daquelas antigas para as carroças e bicicletas.

Sentado ao lado do senhor da bandeira está outro senhor. Conversam recordando Abril. Ambos se levantam e dirigem-se para o triangulo expositivo que mostra fotos da Revolução. Apontam e falam de uma imagem.

Render do guarda oficial na frente do quartel da GNR.

No largo estão três grupos de turistas: 1 de alemães, 2 de ingleses. Os respetivos guias têm diferentes formas de se expressarem. Uns falam com um ar convincente, outros são mais emotivos, um deles parece incarnar a personagem do capitão de Abril.

Enquanto alguns ouvem os guias, outros distraem-se com o telemóvel, com a vista dos arredores. Alguns aproveitam para se sentarem nos bancos de mármore e descansarem.

Chega mais um grupo de turistas. A guia procura um lugar onde se posicionar no largo. Olha para os outros grupos e parece curiosa para saber quem são os guias presentes. Busca uma distância com os outros e ao mesmo tempo um local que permita ver as diferentes coisas a que se vai referir durante a sua performance.

O convento do Carmo está em obras. Há uma tela que cobre toda a frente. Só se ouve o som do processo de restauro.

O prédio que faz esquina com a Travessa do Carmo também está todo em obras. Antes destas obras, que também estão protegidas por uma tela do tamanho do prédio, havia um café no rés do chão, tipo tasquinha portuguesa, no qual eu estava a contar ir ouvir algumas conversas dos “cotas” ao balcão.

A fonte ao centro do Largo do Carmo não tem água. Ao lado desta estão dois expositores triangulares com fotos de Abril.

O senhor da bandeira está a ser entrevistado por um canal televisivo.

Outro senhor, provavelmente de origem paquistanesa, está a preparar a esplanada do Restaurante Internacional. São doze mesas no total e um grande chapéu de sol.

Chegam novos grupos de turistas e há sempre os que estão em modo free-solo, a caminhar de cabeça para cima.

Os tuk-tuks cheios passam e estacionam em fila dupla de quatro piscas ligados. Os condutores saem e apresentam o local aos turistas que se mantêm sentados na bancada de trás.


Hora decisiva do 25 de Abril: são 11h20, Salgueiro Maia está prestes a sair do Terreiro do Paço com uma coluna da Escola Prática de Cavalaria. Seguindo as ordens de Otelo Saraiva de Carvalho dirigem-se ao Largo do Carmo.

No centro do largo do Carmo continua a estar o senhor da bandeira, a responder a jornalistas. Os turistas fluem. No meio de tudo, sob a calçada ainda húmida dos pingos que caem discretamente, está uma trotinete caída. Foi deixada assim, no chão, de lado, parecendo olhar para o céu e ter os pequenos braços abertos. Os turistas mais distraídos com o mesmo céu tropeçam na trotinete abandonada.

Uma jornalista de microfone na mão dá uma volta ao largo para sondar quem poderá entrevistar. Os nossos olhares cruzam-se.

Três empregados da Marisqueira instalam a sua esplanada. É maior, mais ornamentada. São 24 mesas no Largo do Carmo.

Uma senhora, turista, com cerca de cinquenta anos, vestida de marcas e com madeixas no cabelo, tira cravos dos que estão no chão em homenagem a Salgueiro Maia. Leva um e depois vem buscar mais dois. A vendedora de flores não viu e ninguém diz nada.

Junto à GNR o senhor da bandeira passa-a a uma criança, mas esta deixa-a cair para trás porque não aguenta com o peso.

A vendedora de flores está a ser entrevistada pela televisão.

São 11h30.

Há pingos de chuva.

Chega um grupo de ciclistas cinquentões. Têm bicicletas de montanha, equipamento fluorescente. As lentes dos óculos são arco-íris. Há humor entre eles. Um deles têm uma coluna de som na sua mala nas costas. Ouve-se AC/DC. Junto à fonte e ao expositor triangular, os ciclistas pousam para a fotografia. Dois deles deitam-se no chão. Há piadas, riem-se e o Benfica é mencionado.

Do lado da GNR está um guia a falar em Hebreu para o seu grupo.

A trotinete continua sozinha a meio do Largo do Carmo, deitada no chão.

Três jovens francesas, negras, sentam-se a meu lado num dos bancos de mármore. Conversam e riem-se.

“– Olhó cravo!”

Neste momento a parte central do Largo está vazia de pessoas, mas toda à volta estão grupos de turistas. Será que é o espaço para a chegada dos Capitães?

A trotinete foi levantada por uma mãe de dois filhos. Ouve-se o barulho da trotinete a cair de novo.

Chega mais um grupo de turistas. Desta vez reconheço a guia. É uma jovem atriz portuguesa que fez alguns papeis no cinema ou na televisão. Também me lembro que foi campeã de xadrez em Portugal. O seu grupo é grande. Fala em inglês e projeta muito a voz.

“– É cravo lindo!” x2

A jornalista da televisão continua a sondar, mas só vê grupos de turistas.

“– É cravo lindo!” x2

Continuam as fotos na mota do GNR. As duas barras da suspensão da frente são douradas.

Mais guias, mais tuk-tuks.

Chega uma carrinha da CML que vem buscar as grades de proteção que lá estavam arrumadas e que não parecem ser necessárias hoje.

A guia-atriz continua a projetar a voz, lutando com o apito das marcha atrás da carrinha da CML que estaciona no Largo.

A guia está completamente envolvida no seu discurso: nota-se pela fisicalidade; imita os passos da marcha dos soldados; as veias do pescoço saem; mexe os braços; abre as mãos; inclina a cabeça; levanta as sobrancelhas. Parece ter o grupo todo na mão, estão a olhar para ela sem se mexerem.

O centro do Largo do Carmo fica novamente vazio.

A trotinete continua no chão, deitada em L.

“– É cravo lindo!” x2


Marcha em celebração ao 25 de Abril de 1974

Avenida da Liberdade, partindo da Praça do Marquês de Pombal, Lisboa

São 14h40, subo a avenida na direção da Praça do Marquês Pombal. Está pouca gente, mas já há partes do cortejo prontas a unirem-se aos que vão descer. É o caso de um enorme cofre que tem a porta aberta e o planeta terra no seu interior. Pertence a um movimento ambiental.

No cimo da Avenida da Liberdade juntam-se grupos organizados de pessoas.

A comitiva do Partido Comunista está no cimo da Avenida, controlam o ponto de partida, têm faixas vermelhas que criam uma zona demarcada (um pouco como o uso das cordas em torno dos blocos nos carnavais brasileiros).

Por detrás está uma comitiva da Juventude Comunista Portuguesa. Há bastantes jovens.

Cartazes antirracismo.

Há turistas que também se juntam com um ar de curiosidade. Têm um cravo espetado no blusão.

Há carros com geradores e colunas em cima.

Três crianças das famílias da CGTP distribuem panfletos para o 1º de Maio. Meio tímidas e a rirem-se. Correm.

Chega um chaimite da Associação 25 de Abril. Há cabeças de “cotas” a sair do chaimite. Estão fardados, mas sem boina.

“– Documentos para todos”, grita um grupo de imigrantes junto à sua faixa principal, antes de começar o desfile.

“Reagrupamento familiar”, diz um dos seus cartazes.

Cada grupo tem os seus slogans escritos, “Somos todos imigrantes”, enquanto o Movimento de Alternativa Socialista escreve “Travar os privilégios das elites”.

Há pessoas que colaram cravos à base dos chapéus de chuva. Permite que estejam acima das cabeças na multidão.

Um grupo de turistas chineses tenta subir apressadamente a avenida pelo passeio esquerdo.

Uma bicicleta e uma trotinete estão deixadas no chão do passeio por onde tentam passar os chineses.

A Associação de Praças e a Associação de Sargentos já tem as faixas expostas no chão.

O Marquês de Pombal vai sendo lotado e organizado progressivamente.

“Palestina independente”

Passam oito policias de choque. Caminham em fila indiana. O que vai à frente tem um andar de cowboy com peito para fora. O polegar da sua mão esquerda está agarrado ao cinto, caminha de pés e de boca abertos.

Mélanchon est à Lisbonne.

O 25 de Abril parece-me ser uma marcha de pretexto para todo o tipo de contestações.

Famílias, passeio com crianças, contar e participar na história.

Todas as ruas dão ao Marquês. Há gente a chegar das várias avenidas e ruas adjacentes.

Há convívio entre os presentes. Ouvem-se piadas e humor.

“– Mais pra lá, mais pra lá”, dizem organizadores de forma a que fique tudo bem centrado.

“– Vocês, metam-se aqui atrás. Temos de distribuir isto”.

Membros da luta antirracista estão presentes. Cartaz diz, “Jamaica – Seixal”.

Para além dos cartazes para o desfile, toda a Praça do Marquês de Pombal está cheia de outdoors políticos a propósito das eleições europeias. Os partidos estão representados, os independentes também.

Uma senhora diz a outra, “– Olha, esta é a filha da Joana e faz anos hoje esta miúda”; “– Ai é? Parabéns!”

Uma marcha como esta tem algo de carnavalesco: tudo se solta, abrem-se possibilidades momentâneas, nem que seja o prazer de descer a pé a principal avenida da cidade.

Uma família aproveita o momento para fazer uma foto do seu coletivo. Também há muitas selfies entre amigos.

A relva da Praça do Marquês de Pombal também serve de campo de jogos para o Macaquinho do Chinês. Apoiado num dos pilares de um outdoor político, um adulto faz a chamada “1, 2, 3, Macaquinho do chinês”, enquanto crianças e jovens se vão aproximando dele.

Um coletivo construiu uma carruagem de comboio, com madeira e cartão. São precisas oito pessoas para levantar e mover a estrutura.

O senhor da bandeira, que vi hoje de manhã no Largo do Carmo, está presente. A alguns metros está um Zé Povinho a ser entrevistado pela televisão. Há “manguito” no final.

A marcha do 25 de Abril também me parece ser uma ocasião que alguns aproveitam para se mostrarem, para serem vistos. Algumas pessoas caminham como se estivessem noutro tipo de desfile. Olham nos olhos para confirmar que estamos a observá-las ou evitam todos os olhares tentando absorvê-los de queixo para cima.

Há um grupo de desportistas em cadeiras de rodas, junto com outros deficientes motores e mentais. Um dos rapazes com síndrome de Down distribui folhetos da Associação dos Pais e Amigos de Deficientes Profundos.

Uma pessoa diz a outra: “– Tou sempre a encontrar pessoas que já não via há bué!”

À frente do cortejo oficial estão os representantes do Partido Comunista Português, nomeadamente o seu Secretário Geral, Jerónimo de Sousa. Estão dentro de um grande quadrado vermelho de segurança. Atrás vem a JCP.

“– Abril em ação, direito à habitação”

“– Não às propinas”

Pais e mães têm filhos nos braços, nos ombros, ou de mão dada.

Uma jovem mulher com vestido preto tem um cravo ao peito e os lábios pintados com um batom vermelho forte. Caminha de forma confiante.

Dois coletes amarelos descem a avenida. Levam escrito, “Pour la liberté de manifester des gilets jaunes »

Há uma criança a andar de triciclo no meio do cortejo.

“– Mas que grande mistura de gente”, diz uma senhora.

Uma mãe empurra o carrinho, o bebé tem uma chupeta.

Duas senhoras a falar entre si: “– E a Francisca?”, “– Ficou numa quinta, está podre”, “– Eu cheguei ontem de Inglaterra”.

Muitas famílias presentes.

O centro da avenida tem bastantes caules de cravos no chão. Flor na mão, caule no pé.

Uma senhora que olha o cortejo passar diz “– Esta gente não almoçou, tá tudo muito fraco”; mete as mãos nos ombros da filha que tem por volta de sete anos e canta “– Grândolaaa, vila moreeeena”; “– Oh mãe, não quero”.

Marcha um grupo ambientalista. Duas crianças vão à frente, puxando uma rede verde cheia de lixo.

A classe média/alta parece estar bastante presente. Vivem o desfile em família. Há cães também.

“Solidariedade com Cuba”.

O Movimento Democrático de Mulheres está representado assim como a Plataforma Portuguesa pelo Direito das Mulheres.

“Força abril, envelhecer com direitos”

Uma senhora de idade trouxe uma proveta com água para pôr o seu cravo.

“Reformados de Almada saúdam o 25 de Abril”

“– 25 de Abril sempre”, refrão gritado ao microfone ligado ao carro com as colunas. A jovem que tem o microfone grita com todo o corpo. O corpo salienta cada sílaba.

“Fim da portagem na A1”

O cofre do movimento pelo ambiente que vi estacionado numa perpendicular à avenida da Liberdade está prestes a juntar-se ao cortejo e aos colegas responsáveis.

Jean-Luc Mélanchon está com a comitiva do Bloco de Esquerda.

Cartazes da Joacine pelo Partido Livre. “– Primeira mulher negra candidata à Europa”, diz uma pessoa ao meu lado.

“– Espanha, Palestina, Brasil e Portugal, a nossa luta é internacional”

Confrontos entre senhores que seguram uma grande faixa e um membro da organização do cortejo. Há empurrões.

Passa um senhor que parece hindu e que toca o seu tambor tradicional, seguro por uma corda à volta do pescoço, tocado na diagonal com a mão esquerda e uma longa baqueta fina na mão direita.

Ouve-se samba a aproximar-se.

Uma ambulância tem de passar em urgência de um lado ao outro da avenida, cortando o ritmo do cortejo. A polícia hesitou, mas membros da organização ajudaram.

“– Lula livre”, diz uma jovem que vai impondo autocolantes nos peitos das pessoas sem que estas possam expressar a sua aceitação.

Ouvem-se os tambores dos Toca a Rufar. Incluíram um senhor de cadeira de rodas que leva um tambor.

Passam hippies a descer a avenida com um caminhar apressado. Levam uma garrafa de vinho branco na mão, sem rolha. Riem-se.

Uma carrinha promove um sistema para tirar ervas só com água, sem químicos.

“Europa!”

“Autodeterminação da Catalunha”

O cortejo está na sua cauda. Há mais espaço entre cada movimento. Todos os outros já estão nos Restauradores e no Rossio.

“Liberdade aos presos políticos”

“Libertação animal”

Os que ainda aqui estão já se focam no telemóvel.

O Festival Feminista de Lisboa tem samba ao vivo.

O fecho do cortejo é feito pelo movimento Iniciativa Liberal.

Um pai tem o filho adormecido ao colo. Sentou-se num dos bancos verdes do passeio da avenida a observar o fim do desfile.

Ainda há pessoas pousadas nos monumentos da Avenida da Liberdade e na relva que os circunda. Os lugares proibidos são domados.

Dois skaters de longboard aproveitam o asfalto livre para circularem livremente e fazerem figuras circulares entre as poucas pessoas que ainda vão descendo a avenida.

Diagrafia #1

25 de Abril, Lisboa

Projeto ArtCitizenship

Alix Didier Sarrouy – CICS.NOVA

Agradecimento especial a Alexandre Castro do fimdomeio.com, pela ajuda na formatação e na criação digital das Diagrafias.

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